segunda-feira, 22 de abril de 2019

Rabino aponta essência bíblica da Páscoa: “Jesus não celebrou com ovos e coelhos”

O rabino messiânico Mário Moreno explicou ao Guiame quais são os pontos de conexão entre a Páscoa judaica e cristã.

FONTE: GUIAME, LUANA NOVAES

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Rabino aponta essência bíblica da Páscoa: “Jesus não celebrou com ovos e coelhos”

A Páscoa (do hebraico Pessach, que significa “passar por cima”) é uma das celebrações mais importantes para o judaísmo e cristianismo. Desde o Antigo até o Novo Testamento, há uma figura que faz conexão entre as duas religiões: o cordeiro.

A primeira celebração da Páscoa ocorreu há 3.500 anos, quando cada família hebreia sacrificou um cordeiro e molhou os umbrais das portas com o sangue do animal, para que seus primogênitos não fossem mortos pela décima praga enviada ao Egito. Temendo a ira divina, Faraó aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo.

Já no Novo Testamento, Jesus deu um novo significado à refeição pascal durante a Última Ceia. Ele identificou o pão como sendo seu corpo, que logo seria sacrificado, e o vinho como sendo seu sangue, que seria derramado na cruz. Cristo se tornou o sacrifício do cordeiro pascal.

De acordo com o rabino messiânico Mário Moreno, o cordeiro é uma figura de redenção desde o pecado original até a redenção de Cristo.

“Quando Adão e Eva pecaram, o Eterno (Deus) matou um animal para cobri-los com uma pele. Segundo a tradição judaica, esse animal foi um cordeiro. Aí entendemos a Bíblia quando diz que ‘um cordeiro foi morto antes da fundação do mundo’”, explicou em entrevista ao Guiame.

“Yeshua (Jesus) tinha a necessidade de morrer como um cordeiro para que Ele pudesse trazer redenção para a humanidade, porque sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados”, acrescentou. “Aquele mesmo que morreu no jardim do Éden para cobrir o homem, estaria agora morrendo fisicamente para trazer a redenção para toda a humanidade em todos os tempos”.

Outra figura que faz conexão entre a Velha e a Nova Aliança é o matzá (pão ázimo). Mário Moreno explica que, segundo um costume judaico, a refeição pascal é celebrada com três pães ázimos que são colocados um sobre o outro, sendo que o primeiro a ser retirado é o pão do meio, que representa Isaque, filho do patriarca Abraão.

“Quando Ele pegou o pão de Isaque, certamente os discípulos se lembraram que Isaque seria sacrificado, mas um cordeiro morreu em seu lugar. Quando Jesus partiu aquele pão, dizendo ‘isto é meu corpo dado por vós’, eles certamente se lembraram de Isaque. Eu acredito que passou na mente deles: assim como um cordeiro morreu no lugar de Isaque, Ele vai morrer em nosso lugar”, observou o rabino.

A keará é um prato com seis cavidades onde são colocados os alimentos que fazem parte do ritual do “seder”: ovo cozido (beitissá), um osso ou pescoço de frango queimado no fogo (zeroá), uma massa feita com nozes, maçã e vinho (charôsset), um ramo de salsa, salsão ou ainda batatas ou cebolas (karpás) e ervas ou folhas como escarola e endívia, além de raízes como gengibre e raiz-forte (marôr e chazêret). (Foto: Getty Images)
Páscoa com coelhos e ovos

No primeiro século, a igreja primitiva comemorava a Páscoa judaica, pois a maioria de seus membros eram judeus. Evidências de mudanças simbólicas na celebração começam a aparecer na metade do século II. Depois que a Páscoa foi instituída pela Igreja Católica durante o Concílio de Niceia, em 325 d.C, o cristianismo apropriou-se de inúmeras tradições de povos pagãos.

A festa cristã era realizada na mesma época que os povos germânicos e celtas prestavam culto à deusa germânica Eostern, também chamada de Ostara. Então as comemorações acabaram se misturando. Um dos elementos atribuídos por estes povos são os ovos e o coelho, vistos como símbolos de fertilidade.

“A partir disso, nós temos essa conexão — que é maligna — onde se faz ovos e coelhos de chocolate para simbolizar Pessach, que é algo totalmente diferente daquilo que a Páscoa judaica propõe. Em Pessach não temos doces, mas sim ervas amargas para remeter ao cativeiro e tudo o que o povo de Israel passou. O paganismo entra para quebrar essa visão de que o povo de Israel sofreu para sair do cativeiro”, esclarece o rabino.

Mário Moreno acredita que a interpretação equivocada das igrejas evangélicas sobre a Páscoa bíblica deve-se ao afastamento do teólogo Martinho Lutero dos simbolismos judaicos, que se perpetuou após a Reforma Protestante.

“Lutero abriu mão de muitas coisas, mas não abriu mão das festas que o catolicismo celebrava”, analisa o rabino. “A grande maioria das igrejas evangélicas ainda hoje celebra a Páscoa com a alusão ao coelho e ovos de chocolate. Infelizmente sabemos que isso é muito danoso, porque abre brechas espirituais para as pessoas que os consomem”.

Ele orienta os cristãos a entenderem o real significado da Páscoa para voltarem à essência bíblica da festa. “É preciso abrir mão do paganismo e voltar à essência com aquilo que Jesus fez com seus discípulos — Ele celebrou uma Pessach totalmente judaica, não foi com ovos e nem coelhos”, afirmou.

“Isso precisa ser feito primeiro a nível de liderança, para que as pessoas possam ser informadas e celebrar em unidade a Páscoa com o cordeiro que tira todo o pecado do mundo”, destacou o rabino.

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