domingo, 4 de julho de 2010

A CONCEITUAÇÃO BÍBLICA ACERCA DO PECADO

Conhecer a doutrina do pecado é imprescindível aos estudantes da Bíblia. Conceitos filosóficos e tantas outras teorias aparecem com a tentativa de explicar a questão do pecado, geralmente, o fazem num plano isolado e incoerente com a doutrina bíblica. Paulo, o grande teólogo nos primórdios da igreja, fala do pecado, conceituando-o segundo a revelação que o Espírito Santo lhe dera sobre o assunto. Ele não fez rodeios filosóficos para aclarar o assunto. Pelo contrário, ele desnudou a matéria para que a revelação mantivesse a autenticidade. Ele relacionou o problema do pecado com a necessidade da justiça de Deus. Por isso, destaca a realidade do pecado e o coloca à luz do Evangelho, revelando todos os seus estigmas. Na Carta aos Romanos, especialmente, Paulo apresenta o pecado e o coloca diante do pecador, como quem traz provas dos fatos. Sucinta e objetivamente, procuraremos dar uma visão panorâmica do que é e o que significa o pecado na experiência humana.
 O PECADO, UMA REALIDADE NA EXPERIÊNCIA HUMANA. Iniciemos nossas considerações sobre o assunto com o texto de Romanos 3.23: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Nenhum outro escrito de Paulo é tão realista quanto a carta aos Romanos e, Paulo, foi objetivo e direto ao tratar da questão do pecado, especialmente nos três primeiros capítulos. Nesta Carta, o apóstolo relacionou esta doutrina à doutrina da salvação para poder explicar o tratamento de Deus em relação aos judeus e aos gentios. Porém, o destaque neste artigo é o modo como Deus vê o pecado e como pode ser expiado do mesmo. Há uma tentativa milenar em resolver a questão do pecado negando-o como um fato. Na historia da queda de Adão e Eva, o pecado corrompeu sua estrutura moral e espiritual e sua restauração só é possível mediante o poder do Evangelho ( Rm 1.16). É errônea a pretensão humanista declarar que “o homem é inerentemente bom”, bem como é falível a pretensão moralista de querer amenizar a realidade pecaminosa do homem. O problema capital do homem é a sua pecaminosidade, e nenhum esforço próprio poderá salvá-lo. A Bíblia declara que “todos estão debaixo do pecado”( Rm 3.9). Todo ser humano tem em si a consciência da realidade do mal. Todos somos dotados desse “senso moral” que nos capacita a escolher entre o bem e o mal.
 O PECADO NA DIMENSÃO LINGUISTICA E TEOLÓGICA
 A definição sobre o pecado tem uma abrangência enorme, porque o define sob a ótica de cada fato em si. Tanto o Velho quanto o Novo Testamentos apresentam o pecado nas suas mais variadas formas e classes. No Velho Testamento, o hebraico é a língua dos seus escritos, e algumas palavras nessa língua determinam a idéia judaica do pecado. No Novo Testamento a palavra “pecado” é definida, também, sob vários ângulos. Vejamos , inicialmente, algumas definições do hebraico sobre o pecado no Velho Testamento. (1) Chatta’th que é termo relativo na língua grega do Novo Testamento a hamartia, cujo sentido de ambos os termos é errar o alvo, perder o rumo. Significa que cada ser humano tem diante de si o alvo da vida, mas erra o alvo. Denota, tanto a disposição de pecar como o ato resultante ( Lv 16.21; Sl 1.1; 51.4; 103.10; Is 1.18; Dn 9.16; Os 12.8). (2) Pasha’, que significa transgredir. Primeiramente, esta palavra dá a idéia de “invadir, ir além, rebelar-se”. A idéia do pecado aqui é a de que o homem ultrapassou a linha de limites, isto é, forçou a entrada; foi além dos limites estabelecidos ( Gn 31.36; Sl 89.32; Am 4.4). (3) Ra’a, significa “ser mau”. Tem o sentido de quebrar, danificar por violência . O termo ra’a significa “aquilo que causa dano, dor ou tristeza. Tem o sentido, também, de pecado deliberado, malicioso, planejado; que provoca e se enfurece. Exemplos em Mq 2.1-3; Gn 8.21; Ex 33.4; Jr 11.11. São pecados na forma de violência. (4) Ramah quer dizer enganar e dá a idéia de “prender numa armadilha, num laço”. É próprio do pecado o ato de enganar e agir traiçoeiramente. É um pecado semelhante ao que prepara uma cilada, uma armadilha ( Sl 32.2; 34.13; 55.11; Jô 13.7; Is 53.9). ( 5) Pathah, quer dizer seduzir. Esta palavra, literalmente, significa “ser aberto”. No Éden, o homem e a mulher abriram espaço para o pecado, isto é, se deixaram seduzir pelo engano do pecado. Várias outras palavras hebraicas poderiam abrir um leque ainda maior para compreendermos a questão do pecado. Porém, nos reservamos a apenas cinco palavras, para podermos conhecer algumas palavras na língua do Novo Testamento, a língua grega. No Novo Testamento, a língua dominante para escrita era a grega, conhecida como “grego koinê”, isto é, popular, a língua do povo. Eis, portanto, algumas palavras gregas que definem o pecado na ótica do NT. (1) hamartia, cujo sentido é errar o alvo, perder o rumo, fracassar. O homem, no principio, perdeu o rumo da vida, isto é, fracassou em não atingir o padrão divino estabelecido para sua vida. (2) anomia que significa desregramento, ou seja, desvio da verdade conhecida, da retidão moral. ( 1 Jo 3.4). Entende-se, portanto, que o pecado tanto é um ato como é uma condição. Pecar significa afastar-se daquilo que Deus considera como “conduta ideal”para o homem neste mundo. (3) Asebeia, que significa impiedade ( 2 Pe 2.6; Rm 5.6; Pv 8.7). (4) Parabasis tem o sentido de transgressão ( Mt 6.14; Tg 2.11). Esse termo consiste na oposição a Deus e a seus princípios. (5) Paranomia é uma palavra relativa à parabasis e significa “a quebra da lei”;é o “afastamento” da lei moral de Deus ( At 23.3; 2 Pe 2.16). (6) paraptoma é uma palavra que sugere “dar passos falsos” ( Mt 6.14; Ef 2.1). Na verdade, estas definições sobre o pecado indicam a riqueza da doutrina na Bíblia. São terminologias das línguas originais da Bíblia que mostram o retrato do pecado nas suas mais diversas esferas da vida humana.
 O PECADO NA OTICA DE PAULO
O assunto requer espaço e tempo. Por isso, nos deteremos em apresentar uma faceta do pensamento Paulino sobre o pecado, fazendo uma exegese textual de Romanos 1.18 que diz: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens que detém a verdade pela injustiça”.A palavra “manifestar” ou “revelar” tem o mesmo sentido nesta escritura. Quando o texto diz que “a ira de Deus se revela”é o mesmo que dizermos que “a ira de Deus investe contra a impiedade e injustiça dos homens”. Ora, impiedade e injustiça são duas palavras destacadas nesta escritura, porque se revestem de um significado profundo em relação a justiça de Deus. Impiedade refere-se à falta de reverencia, à irreligiosidade do homem pecador, e a palavra injustiça refere-se à imoralidade, no sentido de perder todo o senso moral das relações com Deus e com os demais seres humanos. Ser ímpio é ser injusto ao mesmo tempo. O viver negando a existência de Deus é ser impiedoso ou irreligioso. A impiedade aqui é a negação à verdade de Deus, `a sua realidade na criação. A ira de Deus se revela contra a violação da genuína piedade. A verdade não pode ser retida. A existência é fato incontestável. Não adianta o pecador fechar os olhos à realidade de Deus. “Deter a verdade” revela o medo do homem em relação à sua pecaminosidade, porque a verdade é luz que projeta o monturo do pecado e as suas conseqüências. A verdade revela-se na luz da consciência, bem como no testemunho da natureza criada ( Rm 1.19,20). A verdade é Cristo ( Jô 14.6) e o pecador tenta obstruir a sua luz. Esta indiferença consciente para com Deus implica na manifestação da sua ira. A Ira divina não pode ser julgada ou comparada à ira humana. A ira divina é uma reação natural e automática da Santidade de Deus contra as manifestações do pecado. Significa que Deus é Santo e não corre o risco de perder sua santidade, por isso, sua santidade e justiça reagem automaticamente. O homem, pelo contrário, precisa ser santo; precisa buscar a santidade. Para o homem, quando encontra Cristo, seus pecados são expiados e ele entra num processo de santificação enquanto viver.


 Pr. Elienai Cabral

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