terça-feira, 17 de novembro de 2015

Abraão, um líder de fé




Um dos momentos mais difíceis para nós na aldeia foi quando nossa filha passou mal. Não havia barco para retornarmos à cidade e nem havia enfermeiro na aldeia. Foi uma noite apenas, mas foi tempo suficiente para que eu fosse moído por Deus.
Na época, minha filha tinha seis anos de idade. Era nossa primogênita. Teve febre alta e vomitou por várias vezes de madrugada. O que fazer nessas horas? Confiar. Crer que Deus dará algum jeito. O carinho e a preocupação do povo se expressavam na oferta deles em querer trazer o pajé para cuidar dela.
“Nós voltaremos”, disse Abraão aos seus servos. Subiram à montanha indicada por Deus na terra de Moriá, apenas ele e Isaque. A verdade é que ele não pedira a Deus por um filho. Por que, então, Deus estaria querendo toma-lo depois de tantos anos?
O chamado à salvação é individual, mas as bênçãos que procedem disso atingem as pessoas que vivem ao nosso redor. Da mesma forma, a direção dada pelo Espírito Santo ao Campo Missionário (se transcultural ou não) atingirá a família do missionário. O mesmo ocorrerá com qualquer um que almeja o “episcopado” ou um cargo público.
O fato é que absorvemos bem as lutas que enfrentamos, enquanto elas dizem respeito apenas a nós. Todavia, quando nossos filhos sofrem por causa da liderança que assumimos, aí nos é trazido à memória o fato de que somos feitos de um material muito frágil chamado barro.
Tento imaginar os pensamentos, as indagações, as lutas de Abraão naquela madrugada antes da viagem à terra de Moriá, diante do pedido de Deus de que seu filho, o herdeiro das promessas, fosse entregue em sacrifício.
Estar à frente e permanecer fiel a Deus quando não O compreendemos é uma obra que o ES faz em nosso caráter visando a dependência que precisamos ter de Deus.
Nem sempre Deus será claro em seus planos conosco. Nem sempre nossas orações serão prontamente atendidas. Nem sempre Deus responderá da maneira como gostaríamos de ser respondidos.
Líder não é aquele que se torna onisciente dos propósitos de Deus. Não carecemos de líderes que tenham todas as respostas. Não necessitamos de super-crentes. Não devemos correr atrás de projetos messiânicos e personalistas de poder e controle humanos.
Minha mãe foi quem me criou na ausência do meu pai, que falecera quando eu tinha apenas 9 anos. Ela não sabia de todas as coisas, mas ela sempre estava lá ao meu lado. Eu também não sabia o que poderia acontecer com minha filha, mas, quando ela abria os seus olhinhos, ela também sabia que eu estava ali ao lado dela.
Abraão não sabia como, mas sabia Quem! Deus havia feito uma promessa que, de alguma maneira, seria realizada. Abraão abria os olhos inundados de muitas lágrimas e, vendo a areia do deserto e as estrelas do céu, lembrava-se da promessa de uma numerosa descendência feita a ele, já há tantos anos, pelo próprio Deus.
Naquela noite, eu aprendi, junto com Abraão, uma dura lição que, até hoje, reaprendo-a diariamente. Ainda que eu não entenda o porquê das dores planejadas por Deus na minha vida; ainda que o apelo às minhas orações pareça falhar; mesmo que, depois de tudo, a alvorada não venha, eu sei que Deus é poderoso para nos ressuscitar na volta de Jesus!
Então creiamos que, ao final, retornaremos juntos das terras de Moriá.
Ensino 3: O líder é aquele que obedece a Deus, mesmo quando não entende os planos dEle.
Leia também o terceiro artigo desta série: “Quando bons líderes não agradam a Deus“.

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