terça-feira, 11 de agosto de 2020

Estudiosos rastreiam o campo magnético da Terra através das ruínas de Jerusalém

As ruínas do Primeiro Templo, que foi destruído durante a invasão da Babilônia a Jerusalém, deram pistas a cientistas sobre o campo magnético da Terra.


FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO JERUSALEM POST

Dr. Shalev, Prof. Gadot e Yoav Vaknin, da direita para a esquerda. (Foto: Shai Halevi/Autoridade de Antiguidades de Israel)

Uma equipe de pesquisadores israelenses conseguiu medir o campo magnético da Terra no dia em que Jerusalém foi destruída pelos babilônios em 586 a.C., de acordo com um estudo pioneira publicado na sexta-feira (7) na revista científica PLOS ONE.

O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, da Universidade Hebraica de Jerusalém e Autoridade de Antiguidades de Israel, amplia a compreensão da devastação de Jerusalém e da disciplina científica.

Em agosto de 586 a.C., após meses de cerco, as tropas babilônicas romperam os muros de Jerusalém e destruíram a cidade, incluindo o Templo Sagrado. A destruição do Primeiro Templo foi um marco na história judaica e é relembrada até hoje com o jejum de 9 de Av, celebrado este ano em 30 de julho de 2020. Foi neste mesmo dia que o Segundo Templo foi destruído pelos romanos em 70 d.C.

A poucos passos do Monte do Templo, um edifício proeminente de dois andares, provavelmente usado para fins administrativos, também foi incendiado e desabou. Mais de 2.600 anos depois, suas vigas e pedras carbonizadas são um testemunho daqueles dias dolorosos, que são descritos na Bíblia.

“No sétimo dia do quinto mês do décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilônia, Nebuzaradã, comandante da guarda imperial, conselheiro do rei da Babilônia, foi a Jerusalém. Incendiou o templo do Senhor, o palácio real, todas as casas de Jerusalém e todos os edifícios importantes”, diz um trecho de 2 Reis 25.

Entre os vestígios mais notáveis ​​do edifício, estão fragmentos de um sofisticado piso de gesso. Essas peças, deixadas na mesma posição por milênios, mostraram-se essenciais para medir a intensidade e a direção do campo magnético terrestre nestes momento.

“Embora meu PhD seja em arqueologia, esta é uma pesquisa interdisciplinar entre arqueologia e as ciências vivas”, disse Yoav Vaknin, principal autor do estudo, ao site Jerusalem Post.

O estudo contou com o diretor do Laboratório Paleomagnético da Universidade Hebraica, Dr. Ron Shaar, para “entender como o campo magnético se comportava no passado”, disse Vaknin.

Arqueologia e campo magnético

O campo magnético uma área ao redor da planeta que sofre influência do campo de energia criado pelo magnetismo do núcleo terrestre, orientado pelos pólos norte e sul, que já se inverteram muitas vezes desde a criação da Terra.

Embora hoje as informações mais precisas sejam fornecidas por satélites, o campo magnético da Terra é visto por muitos estudiosos como um dos cinco mistérios da física, deixando alguns enigmas.

“Recentemente, vimos muitos casos em que as ciências vivas deram uma contribuição para a arqueologia, mas neste caso o oposto também é verdadeiro”, destacou Vaknin.

Escavação do Givati ​​Parking Lot, em Jerusalém. (Foto: Shai Halevi/Autoridade de Antiguidades de Israel)

Os estudiosos israelenses se concentraram na questão do campo magnético da Terra em camadas arqueológicas resultantes de destruições em massa, como no caso de Jerusalém.

Quando objetos formados por minerais magnéticos são queimados em uma temperatura muito alta, esses minerais são remagnetizados e, portanto, registram a direção e a magnitude do campo naquele momento preciso.

Artefatos como cerâmica, tijolos e telhas, que são queimados em alta temperatura, podem todos fornecer esses registros. No entanto, por mais preciso que seja a datação, geralmente dura algumas décadas. Mas se documentadas por registros históricos, as camadas de destruição podem ser fixadas em um momento muito específico — no caso de Jerusalém, em 586 — fornecendo uma oportunidade única.

“Datamos a destruição da estrutura em 586 a.C, com base em vasos de cerâmica quebrados, típicos do final do período do Primeiro Templo, encontrados no chão. Além dos utensílios quebrados, encontramos sinais de incêndio e grandes quantidades de cinzas”, explicaram os diretores da escavação, Dr. Yiftah Shalev e Gadot.

Vaknin se concentrou em medir o campo magnético dos numerosos fragmentos de piso espalhados, descobrindo que, independentemente de sua posição, eles registravam a mesma direção magnética.

“Medir dados magnéticos de um chão queimado há milhares de anos não é uma questão trivial”, comentou Shaar. “Felizmente, neste estudo específico, Yoav conseguiu decifrar o código magnético da natureza e dar informações importantes de vários ângulos: histórico, arqueológico e geomagnético”.

Vaknin observou que, para realizar um processo semelhante, é essencial realizar as medições em objetos que ainda estejam em sua posição original no campo após a destruição. Os artefatos do mesmo período que foram movidos podem fornecer informações sobre a magnitude do campo magnético, mas não sua direção.

O objetivo final é criar um novo sistema de datação precisa, com base no campo magnético da Terra e suas mudanças, projetando assim uma curva. “Estamos construindo a curva a partir de muitos dados e a ideia é que as camadas de destruição sejam as âncoras cronológicas para essas informações”, concluiu Vaknin.

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