quinta-feira, 19 de abril de 2018

Pastor é preso na China por fazer trabalho missionário

Governo alega que ele cometeu um crime ao pregar em um país vizinho


por Jarbas Aragão

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John Sanqiang Cao

A viagem missionária do pastor John Sanqiang Cao da China para a nação vizinha de Mianmar poderá lhe custar a liberdade. Durante anos, ele e outros líderes cristãos chineses atravessaram o rio que separa os dois países em uma jangada estreita de bambu, levando consigo cadernos, lápis e Bíblias.

O caminho percorrido pelos missionários para chegar a Mianmar é de apenas 9 metros. Porém, na última viagem que fez, em 5 de março de 2017 foi diferente. John Cao e um professor estavam retornando à província de Yunnan quando viram agentes de segurança chineses esperando por eles na margem do rio.

Após décadas de trabalho nas igrejas clandestinas da China, ajudando a criar escolas bíblicas, o pastor de 58 anos sabia o que isso significava. Ele rapidamente jogou seu celular na água, protegendo as identidades de mais de 50 professores chineses que havia recrutado para dar às crianças de minorias étnicas no país vizinho uma educação gratuita, baseada nos valores cristãos.


Cao foi detido pelos policiais e, depois de um ano, julgado e condenado a um total de sete anos de prisão por “atravessar ilegalmente a fronteira”. Seus filhos, que moram nos EUA, não tiveram permissão para entrar em contato com ele desde sua prisão.

“Nada que meu pai organizou foi político. Sempre foram atividades religiosas ou de caridade ”, disse Ben Cao, 23 anos. “Esperamos que a China seja misericordiosa e veja que as intenções de meu pai foram boas.”


A punição de John Cao foi anunciada em meio a uma série de medidas do governo chinês para “regulamentar” as principais religiões do país, eliminando a “influência estrangeira” e alinhar as religiões com as próprias doutrinas do Partido Comunista.

Analistas dizem que o gabinete do presidente Xi Jinping vê cada vez mais a ascensão do cristianismo na China como uma ameaça ao seu governo, e pode estar usando figuras proeminentes como Cao como um exemplo para intimidar atividades missionárias. O caso do pastor também parece mostrar que o partido quer estender seu controle sobre as atividades dos fiéis da China, mesmo quando eles estão no exterior.

“Isso reflete as restrições crescentes em solo chinês contra qualquer tipo de independência religiosa”, afirmou Bob Fu, líder da China Aid, organização que luta pelos direitos dos cristãos.

“No passado, quando eles falavam sobre infiltração estrangeira, estavam se referindo às atividades de missionários estrangeiros dentro da China, mas isso agora se expandiu para incluir missionários chineses indo para o exterior.”


Novas regulamentações religiosas implementadas em fevereiro estipulam que cidadãos chineses que deixam o país para fins religiosos sem autorização do governo podem ser multados em até 200.000 yuans (cerca de R$ 100 mil). Enquanto isso, líderes de igrejas não aprovadas pelo Estado estão sendo impedidos de deixar a China. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse recentemente que Washington está “profundamente preocupado” com a sentença de Cao e pediu à China que o liberte por “razões humanitárias”.

Bíblia e cartas

Cao tinha 20 anos quando conheceu um casal cristão americano que visitava sua cidade natal na província central de Hunan. Eles lhe deram sua primeira Bíblia e trocaram cartas com ele falando sobre o cristianismo.

Cao, o filho mais velho de um casal de professores, disse-lhes que ouvia as transmissões de rádio do evangelista Billy Graham e sentiu-se chamado a pastorear o povo chinês. Ele conseguiu ir para os Estados Unidos e completar seus os estudos num seminário em Nova York. Lá conheceu uma americana que se tornaria sua esposa.

Mesmo pastoreando uma igreja nos EUA formada por imigrantes chineses, Cao manteve sua cidadania chinesa e dividia seu tempo entre os países. Ele tinha forte ligação com a rede de igrejas “domésticas” da China – congregações que não são sancionadas pelo Estado, mas que as autoridades, em muitos casos, toleraram. O missionário ajudou a fundar mais de uma dúzia de seminários bíblicos no centro e no sul da China, que treinam adolescentes de famílias cristãs pobres para se tornarem pastores.

Alguns posteriormente se tornaram professores nas escolas que Cao construiu em Mianmar. A maioria dessas escolas foram invadidas e fechadas por agentes de segurança chineses nos últimos anos. O trabalho de Cao também se estendeu até o Nepal, para onde ele foi após o grande terremoto de 2015, levando alimentos e ajuda médica.

Seus amigos dizem que ele é um homem totalmente dedicado a causa da evangelização. “Meu pai sempre tentou economizar o máximo de dinheiro possível para que pudesse doar para quem precisava”, disse o filho Ben.

Em uma recente carta para seus mantenedores, o pastor Cao mostrou-se confiante: “Louvado seja o Senhor, Ele me sustentou e me manteve em boa forma”.

“Ameaça” ao Partido Comunista

O rápido crescimento do cristianismo, sua capacidade de mobilização e resiliência em meio a duros períodos de perseguição fazem com que ele seja visto como uma ameaça pelo Partido Comunista, dizem os especialistas.

“Suspeito que (Cao) foi escolhido para essa prisão”, disse Xi Lian, professor de Cristianismo na China na Universidade Duke (EUA). Segundo ele, os pastores com “menor visibilidade” têm feito um trabalho semelhante ao longo da fronteira entre a China e Mianmar sem maiores repercussões, mas seu papel na rede de igrejas domésticas faz dele “o tipo de pessoa que deixa o governo chinês nervoso”.

O professor cristão preso junto com Cao foi condenado por um crime menor e já está em liberdade. Liu Peifu, advogado do missionário John Cao, disse acreditar que o trabalho do pastor foi o único “elemento” de sua sentença.

No passado, Cao tentou obter aprovação do Estado para muitos projetos, sem sucesso. Chegou a entregar para as autoridades locais uma escola primária e uma clínica médica que havia construído com dinheiro de doações dos EUA. Não foi o suficiente.

“O governo escolheu a igreja certa para perseguir”, escreveu Cao numa carta recente, descrevendo a resiliência das igrejas domésticas. “O tempo provou. . . que Deus ainda está vivo e ativo na China.” Com informações CBN

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