Dilma Rousseff poderá ser candidata a presidência da
República em 2018. (Foto: O Globo/Jorge William)
Após decisão do afastamento de Dilma, uma nova votação feita
pelos senadores definiu que a presidente deposta poderá se eleger novamente.
Por 61 votos a favor e 21 contra, o Senado aprovou
o impeachment de Dilma. Tchau, querida!
De pronto, já ouvimos os descontentes dizerem que o
impeachment é "anti democrático". Se um processo que passou pela
Câmara dos Deputados, pelo Senado e foi presidido pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) não for democracia, então que mudem o respectivo
conceito.
Venceu a democracia! Venceu a Constituição! Será?
Na sequência [da aprovação do impeachment] houve outra
votação, objeto do "destaque acordado" para tentar livrar Dilma da
inelegibilidade, que resultou em 42 a 36 votos; portanto, Dilma não perderá o
direito de exercer a função pública. Assim, conforme eu havia postado no início
da Sessão de hoje, [Dilma] poderá ser candidata a presidência da República em
2018.
Aquele destaque que propunha "voto em separado"
era a estratégia para livrar Dilma da pena. Entenderam?
Lamentável! Não vejo lógica em entender que Dilma cometeu
crime e não será apenada como tal. Impeachment sem inelegibilidade, a meu ver,
é golpe!
Na minha opinião, data máxima venia, o presidente da sessão,
Dr. Ricardo Lewandowski (presidente do STF), "protegeu" a presidente
quando aceitou esse voto em separado. Se eu fosse os senadores de oposição, não
teria permitido este "voto em separado".
Olha o golpe, Brasil!
Vejo contradição na dupla votação, já que o artigo 52
paragrafo único da Constituição Federal afasta com a inabilitação para exercer
função pública:
"Art. 52. Compete privativamente ao Senado
Federal: Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II,
funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a
condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado
Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de
função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis."
A sentença, com o destaque da possibilidade de habilitação
para o exercício de função pública, fere a Constituição Federal. Portanto,
vemos que no âmbito judicial, quando a sentença for apreciada pelo STF, este
haverá de mudar a Constituição, usurpando competência legislativa, cerne do
processo de impeachment de Dilma?
Assim, posso concluir que voltaremos à "estaca
zero".
Nova votação no Senado livrou Dilma da inelegibilidade. (Foto:
Reprodução)
Ante a essa "aberração constitucional", pergunto:
Como pode uma Casa Legislativa votar a cassação do mandato de Dilma por usurpar
a competência legislativa e, na mesma sessão, novamente usurpar a competência
legislativa alterando a Constituição Federal na "cara dura", só para
proteger os direitos políticos da ex-presidente Dilma?
Mais uma pergunta: Seguindo este entendimento, que vejo como
uma "heresia jurídica", daqui 1 ano e 5 meses a presidente estará
habilitada para presidir o Brasil, novamente?
Outra pergunta que não quer calar: Na votação da cassação do
deputado Eduardo Cunha, prevista para a próxima semana, também haverão de lhe
assegurar os direitos políticos?
Vejam que triste, Brasil!
Penso que os senadores que votaram a favor da garantia do
exercício de funções públicas deveriam se explicar ao povo do Brasil.
Espero, sinceramente, que os cidadãos e cidadãs brasileiros
manifestem repúdio à esse "conchavo anti democrático" feito neste dia
histórico, em que o Brasil estava pronto para comemorar e aplaudir o Congresso
Nacional.
Não posso deixar de dizer que, no momento da votação, me
veio a análise do porquê os senadores não impugnaram a votação do
"destaque". Será que foram inocentes? Claro que não! Talvez tenham
pensado: "Vamos garantir o impedimento constitucional e depois pensamos no
'destaque'". Confesso que pensei que era esse o clima. Porém, para a nossa
decepção, dos 61 senadores, 41 quiseram "fazer uma média" com o PT —
afinal, não se sabe do futuro, né? Será que foram obrigados a votar para não perder
os votos dos seus eleitores?
São muitas perguntas, mas quase todas já respondidas pela
obviedade do cenário politico em análise.
Enquanto profissional do Direito com especialização em
Direito Constitucional, repudio veementemente essa decisão anti democrática.
Isto sim é golpe, Brasil!
Teresinha Neves. Profissional do
Direito e da Ciência Política. Especialista em Direito
Constitucional. MBA em Políticas Públicas e Gestão
Governamental. Especializada em Legística e em Processo Legislativo.
FONTE: GUIAME, TERESINHA NEVES
*As opiniões aqui expressas são de exclusiva
responsabilidade do autor do texto e não refletem necessariamente o
posicionamento oficial do Portal Guiame.
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