Em entrevista exclusiva ao Guiame, José Dilson falou abertamente sobre o tempo que passou preso no Senegal - de novembro de 2012 a abril de 2013 - e também sobre como viu o agir Deus durante o processo de seu julgamento.
Pastor José Dilson durante entrevista exclusiva ao Guiame. (Foto: Fabio Deus / Guiame)
"Eu sou prisioneiro de Cristo. Não posso ir para casa, simplesmente para me ver livre das grades. Eu tenho um propósito a ser cumprido aqui na prisão". A frase impactante marcou a luta que o pastor e missionário José Dilson enfrentou contra a perseguição religiosa, durante os cinco meses que foi mantido preso no Senegal.
Idealizador de um projeto que evangeliza crianças no Senegal, tirando-as das ruas e da opressão de perversos líderes islâmicos, José Dilson viu nos dias de prisão, não simplesmente a privação de sua própria liberdade e o afastamento de sua família, mas sim uma oportunidade para continuar a trabalhar pelo Reino de Deus.
Mesmo diante da precariedade da prisão no país africano e as constantes ameaças das autoridades do Senegal, José Dilson não desanimou e acabou transformando a sua cela em um local de culto, compartilhando a mensagem do evangelho com outros prisioneiros.
Atualmente morando em Niterói com sua esposa e os três filhos, orando e pedindo o direcionamento de Deus para dar os próximos passos, seja de volta ao Senegal ou a para outras nações.
Em entrevista exclusiva ao Guiame, o missionário falou abertamente sobre o tempo que passou preso no Senegal - de novembro de 2012 a abril de 2013 - e também sobre como viu o cuidado de Deus durante o processo de seu julgamento.
Confira a entrevista abaixo:
Portal Guiame: Em uma de suas cartas enviadas da prisão, você afirmou que era um 'Prisioneiro de Cristo'. Por que você usou esse termo para explicar sua situação?
Pastor José Dilson: Eu disse, porque eu havia sido preso por pregar o evangelho para crianças e não eram crianças que estavam nas casas de seus pais, elas estavam nas ruas de Dakar, no Senegal. Muitas delas estavam sob domínio de líderes religiosos que as escravizavam. Então, porque eu preguei para essas crianças, eles começaram me perseguir e me prenderam. Por isso eu dizia que era um prisioneiro de Cristo, porque eu não era um prisioneiro do Estado, não era um prisioneiro do governo.
Guiame: Você não daria esse 'gostinho' para eles...
José Dilson: De jeito nenhum! [risos]. Um procurador me fez a proposta para que eu deixasse o Imã [autoridade islâmica] ensinar o Corão em nossos projetos com as crianças. Eu disse que nós éramos confessionais e que só ensinávamos a Palavra de Deus. Me prometeram inclusive que eu poderia voltar para casa [livre das acusações], se eu aceitasse a proposta. Não aceitando isso, eu continuei preso, e mais uma vez, eu cheguei a essa conclusão: "Eu sou prisioneiro de Cristo. Não posso ir para casa, simplesmente para me ver livre das grades. Eu tenho um propósito a ser cumprido aqui na prisão".
Com dois livros lançandos, relatando suas experiências no Senegal, José Dilson atualmente ministra palestras e pregações em igrejas de todo o Brasil. (Foto: Facebook)
Guiame: Na mesma carta, você também falou sobre a situação precária da prisão onde você ficou. Quando você se via naquela situação, o que vinha à sua mente?
José Dilson: Como em qualquer país de terceiro mundo, as prisões do Senegal não são diferentes. Superlotação, insalubridade, muita gente doente, muita pobreza, escassez. Eu praticamente desci ao inferno, de tanta precariedade e tanto sofrimento. No meio daquilo ali, em 150 dias que eu fiquei preso, eu acordava chorando todas as manhãs, não pelo sofrimento da prisão em si, mas por saudade da minha esposa, dos meus filhos, da própria liberdade. Realmente foi muito difícil estar ali. Mas em nenhum momento aquilo foi estranho para mim, porque eu via colegas prisioneiros passando por situações bem piores que a minha ali dentro.
Guiame: Você também teve a oportunidade de compartilhar o evangelho com outros prisioneiros. O que os funcionários da prisão acharam disso?
José Dilson: Assim que eu cheguei naquela penitenciária, fui logo colocado contra a parede por guardas, que diziam: "Ah! Então você é o pastor que converte crianças muçulmanas ao cristianismo. Você vai ver o que acontece com pessoas como você aqui dentro". Depois disso, fui levado a uma cela. Logo no meu primeiro dia de prisão, já saiu nos principais jornais do país: "Pastor brasileiro que converte crianças muçulmanas ao cristianismo". Eles me colocavam sentado uma cadeira e me cercavam para me pressionar. Nos 60 primeiros dias de prisão, não teve um dia que fui dormir sem ser ameaçado. Mas também não teve um dia que eu não falasse de Jesus ali dentro. Eu comecei a realizar cultos. Transformei aquela cela em um salão de cultos. Nós tínhamos três cultos por dia dentro daquela prisão e Deus fez coisas tremendas no meio deles, a partir da pregação do evangelho.
Guiame: Mesmo chorando todas as manhãs e ameaçado de morte, você teve a coragem de compartilhar o evangelho. De onde tirou forças para desafiar aquelas autoridades?
José Dilson: Nós estamos na África desde 1990. Eu já estava esperando ser preso ou até algo pior, como a morte, desde o início. Em Guiné Bissau tínhamos 44% de muçulmanos e no Senegal, 94% de muçulmanos. Ninguém que trabalha no meio de um grupo tão grande de muçulmanos vive um romantismo, achando que tudo vai se sair muito bem, tem sempre a possibilidade de que algo mal venha a acontecer. Eu tive amigos missionários que foram mortos a tiros por grupos radicais islâmicos e quando eu fui para aquela prisão, fui com aquela consciência: "Deus está me trazendo aqui e não o homem, não o diabo. Deus está me trazendo aqui com um propósito específico". Isto também responde a primeira pergunta. Por isso também eu me considerava um prisioneiro de Cristo. Quando eu entrei ali, fiz a seguinte oração: "Deus, me ajude a transformar as adversidades desta prisão para compartilhar o Teu amor, o Teu evangelho". Eu me acordava todos os dias, chorando. Eu ia para o banheiro daquela prisão, me ajoelhava e orava pedindo que o Senhor me desse graça. Eu escrevi uma carta da prisão, com o título "Graça para viver e morrer". Ali eu aprendi que a graça de Deus se renova também a cada manhã. Eu pedia esta graça e ela, como mágica, era renovada na minha vida. Ali eu estava pronto para o dia inteiro, para pregar o evangelho aos meus colegas prisioneiros. A força que eu encontrava estava nesta graça do Senhor. Ele não me livrava da prisão, mas se fazia presente comigo ali.
Crianças atendidas pelo projeto de José Dilson, acompanhadas de dois dos filhos do missionários e outros membros da equipe. (Foto: Facebook)
Guiame: Segundo seus relatos sobre o julgamento e o veredito que a justiça do Senegal deu ao seu caso, houve também um agir de Deus neste caso. Em quais momentos você viu esse cuidado divino?
José Dilson: Logo no início, o Brasil mandou uma comitiva parlamentar - Senador Magno Malta, Roberto Freire, Ronaldo Fonseca... Eles foram lá para tentar intermediar a minha saída. Eles nem sequer foram recebidos. Naquela região da África, está lá o Estado Islâmico, o Boko Haram... Esses grupos são de fato, terroristas, muito agressivos. Eu tinha expectativas bem piores. Foram cinco meses de tentativas para me tirar da prisão, houve um abaixo-assinado com 65 mil nomes, teve também um abaixo-assinado de 75 nações ao governo do Senegal, pedindo a minha soltura, contudo eu estava preso. No meio disso tudo, veio uma chancelaria do Senegal para o Brasil, pedir perdão de uma dívida que o Senegal tinha com o nosso país, que valia milhões de dólares. Um dos pontos da pauta dessa reunião era a minha soltura. Eles voltaram para lá, dizendo que iam me soltar. De fato, depois de um mês eu fui solto.
Eu creio que houve a intervenção dessas autoridades, porque foram à minha cela e me disseram: "O seu caso está nas mãos de grandes. Em pouco tempo você vai sair daqui". Eu saí daquela prisão, após exatos 150 dias. Depois disso, aguardei por 15 meses pelo meu julgamento [em prisão domiciliar]. Eu considero que foram piores os dias aguardando o julgamento, quando eu tive que assinar documentos, suportar uma grande pressão psicológica, confusão de equipe, a tensão por tudo aquilo que estava acontecendo. Estes dias foram piores que o tempo na prisão. Mas no décimo quinto mês eu fui julgado e havia a possibilidade deles me mandarem para a prisão novamente. Um procurador chegou a pedir para me manterem presos por mais dois, porque segundo eles, eu fazia lavagem cerebral naquelas crianças e eu estava naquele julgamento, pronto para qualquer coisa. Eu já tinha até mesmo planos para quando voltasse para a prisão.
Nos primeiros meses que fiquei preso, Deus havia feito grandes coisas e eu sabia que coisas bem maiores poderiam acontecer. Mas de fato, houve uma intervenção de Deus naquele julgamento. O juiz não atendeu ao pedido daquele procurador e ele me inocentou de todas as acusações. Eu ainda aguardei um mês, porque o juiz dizia que os oponentes poderiam recorrer da decisão. Ele me dizia que caso recorressem, aquele processo ainda poderia durar cinco anos. Graças a Deus, um mês depois, eles não recorreram. Eles me devolveram o meu passaporte. Eu pude voltar para o Brasil. Mas todos acreditam, inclusive um advogado muçulmano falou: "Foi a intervenção da Igreja do Brasil, aquelas 65 mil assinaturas que levaram o Senegal a te dar o habeas corpus. Então eu creio, todos nós cremos firmemente que houve uma intervenção de Deus. Aquela foi a hora exata de Deus.
FONTE: GUIAME, POR JOÃO NETO
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